segunda-feira, 28 de abril de 2008

Santa Hildegard von Bingen


Durante as trevas intelectuais da Idade Média, a Igreja Católica Romana era uma instituição
patriarcal sedenta de poder e rigidamente machista. Mas, mesmo assim, alguns luminares
femininos conseguiram se destacar, especialmente nos países germânicos. Entre estas
mulheres, uma nos interessa especialmente: Hildegard von Bingen, autora da primeira citação
do uso do lúpulo na fabricação de cerveja de que se tem notícia (1067).


Hildegard von Bingen viveu de 1098 a 1179, na Renânia. Décima e caçula dos filhos do barão
Hildeberto de Bermersheim, portanto, de família nobre, tinha saúde frágil e aos 8 anos foi
entregue a uma tia monja beneditina, para ser criada em um mosteiro e receber uma educação
religiosa. Desde cedo ela passou a ter visões místicas que lhe possibilitavam, entre outras
coisas, demonstrar um alto grau de clarividência e de premonições. Hildegard escrevia tudo o
que lhe acontecia, e suas visões se transformaram num livro chamado Scivias (Conhecer o
Caminho). Ela relatou sobre suas visões a grandes teólogos da época, como Bernard de
Claivaux. Foi ele quem enviou uma parte dos manuscritos de Hildegard para o Papa Eugênio
III, em Trieste. Profundamente impressionado, ele endossou os trabalhos de Hildegard bem
como suas visões.


Ela foi uma extraordinária pensadora, uma grande filósofa e teóloga. Ela era uma freira que -
coisa raríssima na época - fazia sermões públicos, que, além de atrair pela riqueza de
conteúdo o povo de sua época, atraia multidões pelo carisma e pela grande beleza física que
possuía, como podemos ver pelas iluminuras que a representam e pelos relatos sobre ela.
Dentre outras qualidades, ela era compositora (suas músicas foram recentemente gravadas),
escritora, médica, botânica. Ela possivelmente tenha sido a primeira cientista ativa, após a
destruição definitiva da biblioteca de Alexandria.


Quando a tia que a criou no convento, e que era Abadessa, faleceu em 1136, Hildegard foi
eleita a nova Abadessa. Durante mais de 25 anos, ela escreveu um número extraordinário de
documentos e trabalhos sobre a relação humana com o plano divino da criação. Também
produziu fascinantes estudos sobre botânica e medicina. Compôs 77 canções litúrgicas para
uso do convento, e algo como um oratório dramático intitulado Ordo Virtutem. Já com uma
idade avançadíssima para a época, aos 72 anos ela voltou a Rhineland para pregar aos
clérigos e aos leigos da necessidade de reformas urgentes na Igreja, que estava visivelmente
corrompida por assuntos nada espirituais. Por toda a vida, ela escreveu centenas de cartas
para as pessoas das mais diversas classes e níveis sociais. Por conta de sua coragem,
Hildegard foi muito atacada por toda a sua vida. Morreu aos 82 anos, em Rupertsberg,
Alemanha e foi beatificada pela Igreja católica, sem nunca ter sido formalmente canonizada.

Entre o povo mais simples da época, talvez devido aos resquícios da tradição pagã, como a
dos druidas, acreditava-se que Deus não seria apenas homem, não teria apenas
características masculinas, Deus seria Pater-Mater. O Ser Supremo teria também um lado
feminino, ou uma "natureza feminina" (a Deusa, adorada pelos druidas). Afinal, a mulher teria
sido também criada à Sua imagem e semelhança, ainda que os padres torcessem o nariz para
tal pensamento e culpassem a mulher pela vinda do pecado ao mundo. Em grego, a palavra
para o lado feminino de Deus é Sophia, e significa sabedoria.


A crença sobre a natureza materna de Deus também estava presente entre os cristãos
primitivos, antes de Roma obter a hegemonia sobre os rumos da Igreja. Mas ela manteve-se na
Igreja do Oriente, a chamada Igreja Ortodoxa, e entre os judeus durante a Idade Média, mas
caiu em completo esquecimento na Europa ocidental (graças ao machismo romano). Só com
Hildegard von Bingen é que é que ela teve um rápido lampejo de retorno. Em vários de seus
êxtases místicos, ela conta que viu Sophia a andar ricamente vestida, procurando um meio de
se dar à conhecer ao mundo. Quando Hildegard morreu, conta-se que seu espírito,
rejuvenescido, foi visto várias vezes andando e cantado pela capela, com uma expressão de
doce júbilo no rosto. Ela cantava a sua mais conhecida canção: O Virga Ac Diadema.

Luisane Vieira

2 comentários:

Bruno Stehling disse...

Garotas, parabéns pelo blog e pela associação!!!
Quem me comentou sobre vcs foi o Armando Fontes, um carioca que mora em BH e participa da AcervA Mineira.
Abraços e parabéns mais uma vez.

Bruno Stehling - ACervA Carioca

Diga disse...

parabéns pela confraria, e convido a CONFECE a ser nossa parceira no portal Gourmet Virtual (www.gourmetvirtual.com.br), portal voltado para a gastronomia e afins.

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